"Toda a paisagem não está em parte nenhuma" é uma frase retirada do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, que contribui para a reflexão sobre a cidade como uma forma de paisagem.
A minha intervenção, no âmbito dos Jardins Efémeros, é a de introduzir na Praça D. Duarte uma construção escultórica que modifique a espacialidade da praça e simultaneamente transforme a contemplação em atividade, a observação em deambulação e o espectador num ativador do lugar.
Esta construção escultórica é composta por longas vigas de madeira sobrepostas entre si, de cor intensa e luminosa, que se estende por quase todo o espaço da praça, criando diversos espaços dentro deste espaço. São vitais as ideias de horizontalidade e de leveza, sendo a escultura um lugar pensado para ser percorrido pelo corpo, num jogo de fora e dentro, de ligações e atravessamentos, numa experiência para o corpo e para o olhar dos visitantes, de todas as idades.
Sobre as vigas aparentemente suspensas e que atravessam o espaço, escrevem-se pequenas reflexões sobre paisagem. As frases, de diversos autores, abrem um espaço semântico dentro do espaço urbano e apelam à atenção de quem as lê. Uma das frases, do artista australiano Ian Burn, "Landscape is not something you look at, but something you look through", diz-nos que ver é pensar.
No seu todo, esta composição de formas abstractas e de texto convoca o espectador e transforma-o em usufrutuário do dispositivo escultórico, em relação com o espaço urbano e a envolvente cultural.
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